3º ANOS - 2º BIMESTRE - Artigo sobre Etnocentrismo - 2016
Etnocentrismo
Se a cultura no que tange aos valores e
visões de mundo é fundamental para nossa constituição enquanto indivíduos
(servindo-nos como parâmetro para nosso comportamento moral, por exemplo),
limitar-se a ela, desconhecendo ou depreciando as demais culturas de povos ou grupos
dos quais não fazemos parte, pode nos levar a uma visão estreita das dimensões
da vida humana. O etnocentrismo, dessa forma, trata-se de uma visão que toma a
cultura do outro (alheia ao observador) como algo menor, sem valor, errado,
primitivo. Ou seja, a visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento
de outra cultura, limitando-se à visão que possui como referência cultural. A
herança cultural que recebemos de nossos pais e antepassados contribui para
isso, pois nos condiciona ao mesmo tempo em que nos educa.
O etnocentrismo trata-se de uma
avaliação pautada em juízos de valor daquilo que é considerado diferente. Por
exemplo, enquanto alguns animais como escorpiões e cães não fazem parte da
cultura alimentar do brasileiro, em alguns países asiáticos estes animais são
preparados como alimentos, sendo vendidos na rua da mesma forma como estamos
habituados aqui a comer um pastel ou pipocas. Assim, o que aqui é exótico, lá
não necessariamente o é. Outro exemplo, para além da comida, é a vestimenta,
pois, tomando como base o costume do homem urbano de qualquer grande centro
brasileiro, certamente a pouca vestimenta dos índios e as roupas típicas dos
escoceses – o chamado kilt – são vistas com estranheza. Da mesma forma, um
estrangeiro, ao chegar ao Brasil, vindo de um país qualquer com muita
formalidade e impessoalidade no trato, pode, ao ser recepcionado, estranhar a
cordialidade e a simpatia com que possivelmente será tratado, mesmo sem ser
conhecido.
Estes são apenas alguns dentre tantos
outros exemplos que ilustram as diferenças culturais nos mais diversos
aspectos. O ponto alto da questão não está apenas em se constatar as
diferenças, mas sim em aprender a lidar com elas. Dessa forma, no momento de um
choque cultural entre os indivíduos, pode-se dizer que cada um considera sua
cultura como mais sofisticada do que as culturas dos demais. Aliás, esta foi a
lógica que norteou as ações de estratégia geopolítica das nações dentre as
quais nasceu o capitalismo como modo de produção. Esses países consideravam a
ampliação da produção em escala e o desenvolvimento do comércio, da ciência e,
dessa forma, a adoção do modo de vida do europeu como “homem civilizado”,
fatores necessários e urgentes. Logo, caberia a este último a função de
civilizar o mundo, argumento pelo qual se defendeu o neocolonialismo como forma
de dominação de regiões como a África.
Tomar conhecimento do outro sem aceitar
sua lógica de pensamento e de seus hábitos acaba por gerar uma visão
etnocêntrica e preconceituosa, o que pode até mesmo se desdobrar em conflitos
diretos. O etnocentrismo está, certamente, entre as principais causas da
intolerância internacional e da xenofobia (preconceito contra estrangeiros ou
pessoas oriundas de outras origens). Basta pensarmos nas relações entre norte-americanos
e latinos (principalmente mexicanos) imigrantes, entre franceses e os povos
vindos do norte do continente africano que buscam residência neste país, apenas
como exemplos. A visão etnocêntrica caminha na contramão do processo de
integração global decorrente da modernização dos meios de comunicação como a
internet, pois é sinônimo de estranheza e de falta de tolerância.
Contudo, a inevitabilidade do choque
cultural é um fato, pois as culturas naturalmente possuem bases e estruturas
diferentes, dando significação à vida de formas distintas. Prova disso estaria
no papel social assumido pelas mulheres, que certamente não possuem os mesmos
direitos enquanto pessoa humana em sociedades ocidentais e orientais. Este
fato, aliás, tem sido objeto de longas discussões internacionais acerca dos
direitos humanos e das questões de gênero. A complexidade dessa questão é muito
clara, pois se para nós do lado ocidental algumas práticas são contra o direito
à vida e à emancipação; para outras culturas essas mesmas práticas devem ser
aceitas com naturalidade, pois apenas reproduziriam uma tradição.
Dessa forma, a tolerância com relação à
diferença é válida, mas seu limite não está claro, pois como podemos aceitar
pacificamente o apedrejamento de mulheres ou a mutilação de seus corpos? Daí a
necessidade da reflexão constante sobre tais limites, uma vez que o maior
objetivo sempre será o convívio harmonioso e a valorização da vida.
Paulo Silvino Ribeiro
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
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