3º ANOS - 2º BIMESTRE -Artigo sobre tolerância religiosa - 2016
Segundo a
Constituição Brasileira, no Art. 5º, inciso VI - É inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas
liturgias ,e a aceitação dos diferentes tipos de religião existente no mundo e
na sociedade.
Artigo sobre tolerância religiosa por
Nunca se falou tanto em tolerância religiosa como hoje. Há, decerto, uma
razão para esse apreço do conceito, que reside em ser o tempo atual um período
de “extremos”, qualificação que se justifica pelos seus paradoxos: paz e
violência, tecnologia e miséria, desenvolvimento e injustiça social etc. Por um
lado aguça-se entre religiões e culturas a sensibilidade pela dignidade humana.
O discurso sobre a inviolabilidade dos direitos humanos fundamentais
pauta-se como imperativo para todos os povos. Por outro lado, a dignidade
humana jamais esteve tão ameaçada, seja pelo armamento nuclear, pela fome, pela
manipulação genética, pelos conflitos políticos, religiosos, étnicos ou seja
por razões múltiplas. A realidade confirma, portanto, a atualidade da reflexão
sobre a tolerância. Nesse debate uma questão crucial que se aborda é saber qual
o limite da tolerância? Ou dito de outra maneira, é possível ser tolerante com
o intolerável? Existe um meio-termo nessa história, uma terceira via que se
tece para além da mera aceitação ou do recurso à violência?
O limite da tolerância torna-se cada vez mais evidente. Tolerância não
significa tolerar o intolerável, o que seria a própria negação da tolerância,
sendo que esta consiste na aceitação mínima do diferente como tradução da
coexistência pacífica. Se a tolerância não equivale a tolerar o intolerável,
que via se lhe aponta, já que a utilização das mesmas armas da intolerância
rejeitaria pelo oposto a própria tolerância? Em termos concretos, com que
atitude enfrentar as ações do braço de terrorismo do fundamentalismo religioso
e político? O recurso às armas da intolerância comprovou-se historicamente como
gerador de mais violência. A ofensiva de Bush, em resposta às ações terroristas
de 11 de setembro de 2001 contra os EUA, não trouxe nenhuma resolução para a
questão, pelo contrário, desencadeou um processo gradativo de violência e
insegurança.
O exercício da tolerância exige o difícil equilíbrio entre razão e
emoção. Tarefa que se torna ainda mais desafiadora quando se está diante do
impacto provocado pelo intolerável (11 de setembro de 2001, EUA; 11 de março de
2004, Espanha; julho de 2005, Inglaterra). Mas é exatamente nesse momento que a
busca do consenso racional pode contribuir, evitando-se a traição pela emoção
e, consequentemente, uma justificativa cuja lógica possui em sua estrutura a
mesma forma de pensar fundamentalista: o império do bem contra o império do
mal.
Com que atitude, então, enfrentar o fundamentalismo? O caminho que se
vislumbra racionalmente é o do diálogo incessante, do acordo justo e
transparente e parece não haver outro meio sensato. Leonardo Boff afirma em seu
livro Fundamentalismo: a globalização e o futuro da humanidade ser
necessário dialogar até a exaustão, “negociar até o limite intransponível da
razoabilidade”, na esperança de que o fundamentalismo venha a reconhecer o
outro e o seu direito de existência. Talvez essa estratégia possibilite romper
as bases de sustentação de qualquer fundamentalismo, instaurando uma comunidade
de povos.
Embora rejeita-se por inteiro o método, a justificativa e a finalidade
das violentas ações fundamentalistas, elas não deixam de indicar algo. Conforme
o teólogo Hans Küng, elas apontam os “débitos de uma Era Moderna muitas vezes
individualista-libertinista”, que deveriam ser levados em conta quando se
rejeita as soluções do fundamentalismo. Enzo Pace e Piero Stefani, no livro, Fundamentalismo
religioso contemporâneo, argumentam que as ações fundamentalistas
denunciam a fragilização do pacto social “(...) e, por isso, [tornam-se] uma
espécie de sinal de alarme que indica níveis baixos de solidariedade social e
níveis total de desconfiança no sistema político (...)”. Esses aspectos devem
ser considerados ao se buscar uma razão para as ações intolerantes decorrentes
dos fundamentalismos.
A terceira via, o como enfrentar o intolerável se constrói pela
sensibilização pacífica, através de protestos e outras atitudes e, sobretudo,
pela busca incessante de diálogo como tentativa de encontrar um meio-termo para
os extremos. O exemplo de Jesus ao convidar seus discípulos para baixar a
espada é inspirador. Contudo, além da atitude democrática e tolerante, é
necessário também que sejam suprimidas as condições que fazem surgir as
atitudes intolerantes, principalmente, aquelas originárias do fundamentalismo.
Do contrário, também a tolerância será insuficiente.
Rivelino Santiago de Carvalho -
http://www.mundojovem.com.br/artigos/tolerancia-religiosa
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